Rosana, Mirela e Andréa planejaram a viagem de férias
perfeitas durante dois anos, juntaram dinheiro e finalmente conseguiram
concretizar o sonho de passar o carnaval na Cidade Maravilhosa, o Rio de
Janeiro parecia estar completamente envolto em uma aura de festa desde o
aeroporto. Elas chegaram à cidade vindas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e
logo no caminho para o hotel em Copacabana puderam presenciar vários blocos de
rua desde o aterro do flamengo, passando pela enseada de botafogo e mesmo na Avenida Atlântica, que é a principal rua do bairro mais famoso da cidade.
Logo que chegaram ao hotel deixaram suas malas no
quarto e passaram a tarde na praia, aproveitando o sol do verão carioca para
ganhar um tom de pele mais bronzeado, beberam algumas cervejas, almoçaram,
caminharam pelo calçadão da orla até próximo ao Forte de Copacabana, e tomaram
banho de mar, é claro.
Durante o tempo em que estiveram na areia, elas
presenciaram vários blocos extremamente animados passando pela rua e resolveram
se juntar a um deles; havia um enorme carro de som, tocando músicas de carnaval
e uma multidão absurda de foliões acompanhando, pulando, sorrindo, cantando e
paquerando. Em determinados pontos do trajeto havia caminhões da prefeitura
jogando água nos foliões para amenizar o calor de mais de quarenta graus e
embora aquele banho fosse revigorante, quase ninguém parecia se incomodar com o
calor.
Em certa altura do trajeto as amigas pararam em um
quiosque para beber alguma coisa, estavam se divertindo bastante e já tinham rolado até alguns beijos em desconhecidos pelo caminho. Elas se sentaram em uma
mesa e pediram três latinhas de cerveja; enquanto conversavam e tiravam algumas
selfies e fotos do lugar e da praia ao fundo um grupo de mulheres se aproximou,
estavam distribuindo o que parecia ser convites para alguma festa que
aconteceria à noite em um lugar que elas não conheciam, mas pelas
pesquisas que fizeram antes da viagem já tinham alguma ideia de onde era e
como podiam chegar lá.
Andréa abriu o convite, que dizia: “Vocês são nossas
convidadas para a ‘Exclusive Mask Party’ melhor e mais sofisticada festa à fantasia da
cidade que acontecerá hoje a partir de meia-noite no armazém 35,
localizado no porto maravilha, próximo ao Museu do Amanhã e do Aquário do Rio.
Mulheres não pagam para entrar e homens pagam 100 reais, traga suas melhores
máscaras e fantasias. A entrada será limitada a um número restrito de
convidados por noite, bebida e comida liberada. Venham se surpreender conosco.”
Depois de pensar por alguns minutos as amigas
decidiram que era uma boa ir até aquele baile, elas obviamente jamais poderiam
imaginar, mas aquela foi a pior decisão que tomaram em suas vidas. A tarde
passou, elas acompanharam o por do sol entre banhos de mar, e mais blocos que
passavam pela rua. Conheceram pessoas, homens e mulheres, de praticamente todos os continentes,
ingleses, americanos, espanhóis, sul-africanos, chilenos, argentinos,
japoneses, russos e até um pequeno grupo de indianos. O Rio de Janeiro havia se
tornado em uma verdadeira Babel moderna repleta de línguas e sotaques de todas
as partes do mundo, e embora elas já estivessem esperando por isso, estar na
cidade fazendo parte de todo aquele movimento era algo único e extremamente
enriquecedor.
Por volta de dez da noite as amigas deixaram o
hotel, o Uber já as estava esperando na frente e o motorista devidamente
vestido em um terno escuro já tinha aberto a porta do veículo antecipadamente. O trajeto
entre Copacabana e a zona portuária da cidade levou aproximadamente trinta
minutos e logo elas estavam diante da entrada do armazém 35 completamente decorado com temas carnavalescos. Quando entraram puderam ver que o enorme espaço estava apinhado de pessoas, muitas estavam completamente fantasiadas, outras tantas estavam apenas usando máscaras simples e havia um terceiro grupo, no qual elas estavam incluídas, que não estava usando nenhuma máscara ou fantasia.
Havia bares espalhados pelo espaço como se fossem estandes; no centro do lugar um enorme palco circular era ocupado por um Dj que tocava música eletrônica européia, a iluminação mudava, constantemente, havia milhares de balões espalhados por toda parte, muito confete e serpentina também completavam o cenário. Vez por outra era possível esbarrar em garçons que tentavam abrir caminho entre a multidão levando e trazendo garrafas de espumante, vinho e outras bebidas.
As amigas estavam se divertindo bastante e não viram a hora passar, beberam, paqueraram e dançaram mais do que já tinham feito em qualquer outra festa em suas vidas principalmente porque havia duas pessoas mascaradas e fantasiadas de palhaços venezianos que já estavam brincando com elas a algum tempo, um deles possuía uma roupa preta com plumas e uma máscara dourada e o outro possuía uma roupa que parecia ser cinza e usava uma máscara branca muito bem trabalhada com detalhes em dourado e preto; eles iam e vinham, dançavam, abraçavam e se insinuavam para elas. Mirela abraçou um dos palhaços só por diversão e ao passar as mãos no corpo do estranho escondido dentro da fantasia, constatou que era uma mulher, pareciam um casal, mas nenhum deles falava qualquer palavra; toda aquela diversão inusitada estava indo bem, até que Rosana desapareceu.
Nem Andréa nem Mirela viram quando a amiga sumiu, mas em princípio pensaram que ela tinha ido ao banheiro, porém como ela demorou demais a aparecer foram procurá-la, sem sucesso. Tentaram ligar pra ela, mas o telefone chamou várias vezes e ninguém atendia; começaram a se preocupar. Voltaram para o grande salão e andaram no meio da multidão procurando, imaginaram que talvez a amiga tivesse encontrado algum cara e estivesse dando uns beijos em um canto, o problema era que o lugar era enorme e estava completamente cheio de gente.
A certa altura as luzes se apagaram por completo, a música quase ensurdecedora continuava tocando juntamente com o som de êxtase da multidão que gritou de alegria no momento em que escuridão se fez presente, porém, foi naquele momento que Mirela começou a desconfiar que havia algo muito errado acontecendo ali. A luz ficou apagada por pouco menos de um minuto, mas foi tempo suficiente para Mirela sentir uma forte dor no braço; quando as luzes voltaram e recomeçaram a pulsar na batida da música psicodélica, a moça viu que seu braço estava sangrando; aparentemente havia sido cortada quatro vezes por algo muito fino e extremamente afiado, era como quatro cortes de navalha paralelos vertendo sangue que acabou sujando sua roupa quando ela tentou limpar. De repente alguém esbarrou em suas costas e ela sentiu ser abraçada tão fortemente que pensou que suas costelas fossem estourar; ao tentar ver quem era a pessoa que estava atrás não conseguiu se virar, mas foi fácil saber quem a estava agarrando tão violentamente porque pode ver claramente os braços vestidos com as mesmas mangas longas de um daqueles mascarado veneziano que as assediaram durante boa parte da madrugada, porém havia um detalhe macabro. Ele não estava mais usando luvas e suas mãos não se pareciam com mãos humanas, as unhas pareciam cinco garras escuras e afiadas, naquele momento ela soube o que a tinha ferido no braço. Mirela tentou gritar, mas estava perdendo o ar tão rápido que pensou que fosse desmaiar, e o pior ainda estava por vir.
Andréa tinha se afastado de Mirela para procurar por Rosana, mas como não teve sucesso voltou; quando chegou mais perto, o que viu foi um daqueles palhaços venezianos mascarados agarrando sua amiga por trás de uma forma tão violenta que havia levantado o corpo da jovem do solo alguns centímetros, a face de Mirela demonstrava o terror que surgiu em seu coração. Andréa tentou ir na direção deles para ajudar de algum modo, mas foi impedida pelo outro mascarado que saiu do nada e a segurou pelo pulso esquerdo tão forte que ela pensou que seus ossos da mão tinham quebrado; antes mesmo que pudesse gritar por ajuda, também foi puxada para junto do agressor numa velocidade absurda, ele a abraçou como se fosse beijá-la mesmo usando a máscara, mas a invés disso falou ao ouvido da vítima:
_ Não tenha medo, meu amor, só vai doer no começo._ disse.
A voz era gutural e medonha; o coração da jovem começou a bater ainda mais forte dentro do peito, bombeando sangue cada vez mais rápido dentro do corpo da vítima indefesa. O agressor ficou frente a frente com a jovem e ela pode ver através dos olhos da máscara, dentro havia olhos acesos como duas brasas vermelhas e no mesmo instante que o olhar dela cruzou com o da criatura, Andréa sentiu uma inexplicável tontura, perdeu parte das forças, como se algo dentro de sua cabeça estivesse sendo desligado forçadamente, anestesiando todo o seu corpo. Depois disso o mascarado ergueu a máscara e ela pode ver que era um homem, embora não fosse exatamente humano, era pálido, com o rosco marcado por grandes olheiras e pequenas veias arroxeadas, além disso os dentes enormes pareciam ter saído de uma fantasia de vampiro. Só que não era uma fantasia.
O vampiro curvou o corpo dela como se fosse beijar a boca da vítima, segurando-á pela cintura e pela nuca; Andréa sentiu a dor dos longos dentes sendo cravados dolorosamente em sua carne na altura do pescoço, naquele momento, mesmo com poucas forças ela gritou, não pode evitar, mas o grito saiu fraco e foi facilmente encoberto pela altíssima música eletrônica que pulsava ao redor. Andréa sentiu o sangue sendo sugado avidamente através da ferida e ao mesmo tempo começou a perder gradativamente a consciência até que por fim tudo ficou escuro e sem qualquer som, para sempre...
...Rosana abriu os olhos, não sabia onde estava; não sentia nem conseguia mexer nada do pescoço para baixo, ainda sentia-se tonta, ela estava em alguma espécie de lugar úmido e sujo, havia um terrível fedor de carne apodrecida. Do lugar onde ela estava, podia ver vários corpos de pessoas espalhados por toda parte, provavelmente estivessem todas mortas, isso explicaria o terrível fedor daquele cômodo. Rosana não se lembrava muito bem como foi parar ali e o motivo de não poder mover nenhuma parte do seu corpo, mas de repente avistou algo que simplesmente destruiu sua sanidade.
No lado oposto ao que ela se encontrava, estavam os corpos de suas duas amigas e eles também já não tinham mais vida.
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