Ninguém acreditou quando aquele caixão se
abriu.
Havia uma área da minha cidade em que
existiam muitas construções antigas e deterioradas, casas e casebres cuja ação
do tempo acabou por destruir praticamente tudo o que tinha lá. Algumas não
possuíam mais seus telhados antigos de telha, provavelmente construídos na
época do Brasil império.
Se não me engano os donos de tais imóveis
não queriam reformar as casas porque, primeiro, seria muito caro do ponto de
vista da quantidade de obra e reformas que cada casebre precisava, seria mais
barato demolir os imóveis; e, segundo, porque a verdade todo aquele bairro
praticamente já não possuía mais qualquer morador, a não ser pessoas sem teto
que vagavam nas redondezas se abrigando no que ainda restava de algumas casas.
Alguns meses atrás a prefeitura fechou uma
parceria com uma empresa que comprou quase todos os imóveis daquele lugar,
indenizou os donos e começou o processo de demolição; estavam planejando
construir um novo condomínio de casas, arborizado e planejado em estilo
americano, ou seja, onde não haveria muros dividindo as casas, apenas os
gramados e pequenas cercas vivas feitas com plantas escolhidas por algum
paisagista renomado. Mas quando as demolições começaram ninguém podia imaginar
o que aconteceria.
A construtora demoliu rapidamente cerca de
dez casas do primeiro quarteirão, o trabalho fluía muito bem até que chegaram a
uma casa que guardava um segredo antigo e medonho. O imóvel estava ligeiramente
mais bem cuidado do que os outros na redondeza, mas mesmo assim não havia
nenhuma forma de aproveitá-lo sem uma grande reforma estrutural; todas as
janelas haviam sido fechadas com tijolos e cimento, as portas eram de madeira
antiga e apodrecida, mas estavam reforçadas com caibros pregados de maneira que
ninguém conseguiria entrar no imóvel sem a ajuda de um pé-de-cabra. Antes de
entrar na casa os funcionários da construtora foram até o que restava do
quintal dos fundos e descobriram o primeiro sinal sinistro; três lápides
improvisadas criavam uma espécie de mini cemitério em um terreno de terra
escura sem grama e extremamente deteriorado.
Havia um nome em cada lápide, Milla,
Gianna e Fyra. A partir daquele momento a obra naquele local teria de ser
completamente interrompida, teriam de comunicar a polícia; provavelmente podia
ter cadáveres enterrados ali e isso implicava uma série de procedimentos
legais. Depois de uma série de telefonemas as ordem dos funcionários era para
que não tocassem em mais nada no quintal, mas que entrassem na casa e tentassem
adiantar parte do trabalho manual da demolição. Este foi o erro deles.
Depois de algum esforço, os funcionários
retiraram os caibros que estavam impedindo a passagem na porta, mas esta estava
trancada de maneira que foi preciso arrombá-la. Quando finalmente entraram na
residência encontraram mais um sinal sinistro. Não havia nada dentro do imóvel,
nenhuma mobília, e isso era de se esperar numa casa abandonada, mas o que não
esperavam era encontrar um caixão bem no centro da sala de entrada; também
havia inúmeras inscrições estranhas marcando as paredes, umas pareciam ter sido
escritas com giz, outras com carvão; eram círculos concêntricos, estrelas, luas
e uma série de inscrições que para aqueles homens pareciam apenas um monte de
garranchos.
_Mais o que significa tudo isso?_ Um deles
perguntou.
Ninguém sabia responder até que um dos
engenheiros, vindo de fora, ao ver tudo aquilo disse:
_São Runas.
_E o que são Runas?
O engenheiro respondeu:
_São uma espécie de alfabeto usado por
povos europeus muito antigos.
Naquela sala estavam cinco homens e outros
cinco estavam do lado de fora da casa, entre engenheiros, pedreiros, ajudantes,
operadores de máquinas e outros trabalhadores da construção; os cinco dentro da
sala perceberam que próximo ao caixão estavam colocadas quatro pedras, como se
fossem paralelepípedos e cada qual possuía um pequeno conjunto de Runas
entalhadas. Além
disso, circundando o caixão existiam dois círculos grandes perfeitamente feitos
com o que parecia ser, um deles, terra escura; e outro, sal.
Nenhum dos homens estava compreendendo
nada daquilo e alguém perguntou ao engenheiro:
_O que essas tais Runas fazem? Pra que
elas servem?
O engenheiro olhou em volta, sacou o
telefone do bolso e começou a filmar toda aquela cena enquanto respondia a
pergunta:
_ Servem para escrever mensagens ou algo
assim. Mas a pergunta mais importante não é essa?
_E qual é?_ indagaram os outros.
Ele disse:
_O que tudo isso significa? Será que é só
uma brincadeira ou estamos diante de algum lugar de rituais de magia de verdade?
Alguns dos trabalhadores saíram e chamaram
os outros que estavam fora da casa para que pudessem presenciar tudo aquilo.
Quando voltaram começaram a fotografar as paredes da sala, o caixão e os círculos
de sal e terra escura.
Alguém perguntou:
_Será que tem uma pessoa dentro daquele
caixão?
Todos ficaram em silêncio, mas logo a
duvida foi respondida.
A parte superior do caixão se abriu e por
mais que todos os que estavam ali quisessem correr, mesmo sem saber se era uma
brincadeira de péssimo gosto ou não, nenhum deles conseguiu mover um músculo
sequer. Algo se ergueu de dentro do caixão, mas pareceu que na verdade estava
se levantando das profundezas do inferno; um homem, magro, extremamente pálido,
sem qualquer pelo no corpo que por sua vez possuía inúmeras tatuagens
principalmente no tórax e nos braços. Alguns dos trabalhadores perceberam que
aquele homem, ou coisa, possuía unhas muito maiores do que deveriam ser, mas
foi quando todos viram os olhos do monstro que finalmente o terror se instalou
na mente deles.
Os olhos do monstro eram completamente
opacos, como se ele fosse sego, o que não era uma realidade e logo todos ali
descobririam isso. Os homens finalmente correram, havia muito mais pessoas
tentando passar pela porta do que ela podia comportar, mas aos murros eles
saíram e foram banhados pela luz do sol da tarde do lado de fora. Alguns
tremiam outros não conseguiam respirar, todos estavam aterrorizados.
_ O que era aquilo? Alguém perguntou.
Cogitaram ligar para a polícia, mas antes
que pudessem pegar novamente os aparelhos celulares viram que aquela coisa
sinistra estava saindo lentamente pela porta. O monstro estava completamente
sem roupas, descalço e recuou por um instante ao perceber que o sol ainda
estava brilhando, mas o que aconteceu em seguida contrariou todas as leis da
física ou crenças conhecidas por aqueles homens.
O vampiro se moveu tão rápido que nenhum
dos homens teve tempo de se defender; um a um foram tombando enquanto a
criatura, mesmo debaixo do sol investia sobre eles, rasgando-os com suas unhas
no pescoço, estomago e rosto, dois homens morreram naquele momento, os outros,
feridos, caíram enquanto tentavam se arrastar desesperadamente para longe sem
perceber que um deles estava sendo drenado bem diante deles.
A criatura largou sua terceira vítima sem
vida e gritou levando as mãos aos olhos para protegê-los da luz, no momento
seguinte desapareceu como que por bruxaria fazendo um som estranho e
absurdamente alto como uma espécie de explosão que fez com que outros dois dos
trabalhadores desmaiassem.
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